Se o normal em Portugal é os autocarros se atrasarem e demorarem mais tempo do que é previsto a chegar, inexplicavelmente, por estes lados os caminhos parecem tornar-se mais curtos e, por vezes, chegamos mais cedo do que o que estava estipulado. Algumas dessas vezes, bem mais cedo.
Nevşehir, otogar, cinco horas da manhã. Estado de espírito: "como é que chegámos aqui tão depressa?" e "que raio vamos fazer até às oito horas da manhã?".
Após algum tempo a tentar descansar um pouco nos desconfortáveis bancos metálicos da otogar (vale a pena lembrar que já era a segunda noite mal dormida), as agências de viagens começaram a abrir e, vendo ali possíveis clientes, não hesitaram em fazer-nos ofertas para entrar e "beber um chá". Mesmo sabendo que não íamos fazer negócio algum, mas de olho nos confortáveis sofás e no cházito, lá aceitámos um dos convintes. Obviamente, já ninguém dormiu mais mas, pelo menos, relaxámos um pouco no belo do sofazito e confortámos o estômago.
Por volta das 7h00, após muita leitura de panfletos turísticos, tanto que os vendedores se aperceberam de que não íam conseguir nada de nós, lá ganhámos coragem para meter as mochilas às costas e partir para o centro da cidade.
Pequeno almoço tomado e alguns quilómetros feitos a pé, decidimos apanhar um dolmuş para uma das cidades subterrâneas dos arredores: Derinkuyu.
Não se sabe ao certo quando foram construídas, mas não há dúvidas de que no século VII d.C. estavam habitadas. Em tempos de paz, a população fazia a sua vida normal à superfície, mas, sentindo-se ameaçada, refugiava-se debaixo de terra, num imenso labirinto de túneis, onde podia sobreviver por mais de seis meses. O mais curioso e impressionante é mesmo a dimensão destas cidades subterrâneas: Derinkuyu, por exemplo, tem sete andares! Dificilmente resistimos à tentação de tentar perceber como é que a população de uma cidade inteira conseguia sobreviver por tanto tempo num ambiente tão claustrofóbico (não são muitos os respiradouros exteriores), sobretudo quando se usava fogo tanto para cozinhar como para iluminação. Simplesmente inacreditável.
Terminada a visita, lá apanhámos o dolmuş de volta para Nevşehir e, apesar de esfomeados, começámos algo que iria durar horas intermináveis: a procura da paragem dos autocarros para Göreme. Primeiro, esperámos mais de uma hora na paragem que nos indicaram no posto de turismo, cansados, acabámos por perguntar a um polícia que nos disse que afinal era dois quarteirões depois, "sem dúvida alguma". Uma vez mais, quase uma hora de espera e nada. Nem mesmo os motoristas a quem perguntámos nos souberam dar uma resposta exacta. Já a entrar em desespero (misto de exaustão e fome), decidimos percorrer a pé os cerca de 4kms que nos separavam da otogar, onde seria impossível não encontrarmos o dito autocarro: mais tarde ou mais cedo todos lá páram. A meio do caminho, alguém nos disse que não precisavamos de ir até à otogar, bastava esperarmos ao lado de um liceu, mas, obviamente já descrédulos de qualquer informação proveniente de um turco, decidimos continuar. Ironia das ironias? Após apanharmos (finalmente) o dito autocarro na otogar, este não só havia todas as meias horas como, em vez deste sair imediatamente da cidade, passava primeiro ao lado do tal liceu.
Pormenores à parte, exaustos e famintos, finalmente a caminho de Göreme.