Saturday, February 25, 2006

Samsun - Amasya (19 a 21 de Fevereiro)

(duas horas e meia de viagem, total: 26 horas e meia dentro de autocarros)

A meio da viagem, com o estômago a dar horas (sonoramente, já que a última refeição decente tinha sido o almoço do dia anterior), decidimos comprar poğaças numa otogar (sempre suspeitas a nível de comida), mas algo que nos deveria saber mais ao menos ao belo do pãozito de leite, tinha um sabor estranhamente parecido a carne fumada. Mais uma lição aprendida (de uma forma desgostosa - literalmente).
Mais uma vez, e após uma noite quase em claro na otogar, chegámos cedo demais ao nosso destino. E as aventuras também não tardaram. À espera de um dolmuş para o centro da cidade, travamos conversa com um turco que nos explica onde o devemos apanhar e onde devemos sair. Já na paragem, uma carrinha pára, o homem diz-nos que devemos entrar, mas só depois de já estarmos em andamento é que nos apercebemos que a carrinha não era um dolmuş, mas uma viatura particular de um amigo, que, por sinal, não tinha cara de grande amigos, para além de que o vidro frontal estava rachado, com dois buracos no meio (como se fossem de balas). Já a imaginar as mais mirabolantes das histórias, e com o coração apertadinho, mal fomos capazes de agradecer quando a carrinha parou no destino pretendido e o homem nos disse que podiamos sair.
Na cidade, incrivelmente deslumbrante, repleta antigas casas otomanas, tal como em Safranbolu, atravessada por um rio, monumentais rochedos como horizonte, resolvemos compensar a situação com um verdadeiro kavaltı (pequeno almoço tipicamente à la turca): o indispensável chá, claro, um balde a transbordar de pão, um prato com tomate, pepino, ovo, salame, azeitonas e o famoso beyaz peynir (uma espécie de queijo fresco mas mais seco, que eles insistem em comer com tudo e mais alguma coisa) e taças com mel, manteiga e compotas (isto tudo para apenas uma pessoa e por apenas 3 YTL - cerca de 2€). Ainda me interrogo como passei a apreciar tanta variedade logo de manhã, logo eu que era adepta das simples torradinhas com leite (embora confesse que o salame, as azeitonas e a salada ainda me fazem alguma confusão).

Depois de um pequeno almoço destes, não foi de admirar olhar para o relógio e constatar que todo o tempo que tinhamos para gastar antes de podermos fazer o check-in num hotel já se tinha ido. Não hesitámos em iniciar imediatamente as buscas por um sítio onde ficar, ansiando por um bom banho e um casa de banho europeia. Sim, porque para este lados as sanitas ainda não estão muito divulgadas - não é nada raro, muito pelo contrário, entramos num tuvalet e depararmo-nos apenas com o belo do buraquito no chão. Melhor do que isso, os turcos têm a teoria que é muito mais higiénico lavarmo-nos em vez de usarmos papel, por isso, a acompanhar o buraquito o que temos? Uma mangueira!
Felizmente, as buscas não demoraram muito e encontrámos um hotel consideravelmente barato em pouco tempo. Mas também não foi preciso muito tempo para descobrir o porquê do preço: a limpeza provavelmente era feita de mês a mês e aquecimento e água quente só entre as 21h e as 8h. Água quente na teoria: fazer um turco entender que há quem não consiga tomar um duche no Inverno só com água morna revelou-se uma verdadeira missão impossível. Solução? Banho à gato durante três dias.

Estoirados de todas as peripécias dos dias anteriores, embora fossem duas horas da tarde, caímos na cama que nem pedras, tanto que nem a falta de banho e comida decentes ou de um quarto minimamente limpo nos perturbou o sono até ao final da tarde. Obviamente que acabámos por decidir gastar o resto do dia a recuperar energias.
Ainda experimentámos entreter-nos um pouco com a televisão, mas acabámos por descobrir que é possível ter-se numa única TV a selecção dos vinte piores canais turcos. Ai querem música?! O Krall (canal com música turca de baixa qualidade) é bem mais do que suficiente. É que nem sequer o Powerturk... Mas também não se pode exigir muito de uma televisão como a turca. Nós reclamamos quando de manhã temos de levar com toneladas de publicidade, mas a TV turca consegue superar todas as expectativas: imaginem o que é ter de aguentar o dia todo com a mesma publicidade, neste caso a do Calgon, em todos os intervalos, de qualquer que seja o programa. Parece-me que a definição de "público alvo" ainda não chegou a estes lados.
Outro aspecto interessante é o facto de dobrarem tudo e mais alguma coisa que seja em língua estrangeira (nem a nossa Lúcia Moniz no Love Actually conseguiu escapar...).
Mais cómica ainda é a censura existente em alguns canais. Num país que deu origem à expressão "fumar como um turco", existe um canal que desfoca todos os cigarros e todas as cenas em que se encontra alguém a fumar. Simplesmente hilariante...
Bom, mas quem pode fazer dissertações infindáveis sobre a televisão turca (talvez até uma tese de mestrado), bem melhor do que eu, é quem passou noites em claro na sua companhia, tal era a fascinação.
Tudo isto para dizer que a hipótese TV foi imediatamente posta de parte. Solução? Premir-se o botãozito vermelho do comando e dormir.
O dia seguinte começou cedo (sim, ainda havia alguma esperança de que pudesse haver água quente antes das oito horas da manhã). Forçados a uma limpeza a frio, rapidamente ficámos despertos o suficiente para iniciarmos uma caminhada que só terminaria ao cair da noite (claro que não sem antes tomarmos um belo de um kavaltı).
Com tanto para ver numa única cidade, não foi fácil traçar o nosso destino. Começámos por percorrer a Atatürk Cad., visitando algumas mesquitas, tendo sido a Minare Camii uma das mais surpreendentes, com uma estrutura semelhante a uma igreja arménia e com um minarete em espiral, alguns túmulos, o Taş Han (um antigo caravenserai) e o Vakıf Bedesten Kapalı Carşı, um antigo bazar coberto, ainda hoje em uso, mas que, com o tempo, acabou por se transformar numa espécie de feira. Do antigo bazar só sobreviveu o corpo, não o espírito.
Uns bons passos depois, tivemos oportunidade de visitar outro interessante edifício, o Darüşşifa / Bimarhane, construído como hospício em 1309 e que se pensa ter sido um dos primeiros a tentar tratar distúrbios mentais com música. Actualmente, está transformado numa simpática cafetaria, que convida os viajantes a descansar um pouco e a tomar um chá, num ambiente muito oriental.

Após este merecido descanso, fizemo-nos novamente à estrada e andámos uns bons quilometros no meio das montanhas (por vezes um pouco desorientados, confesso) em busca da Aynalı Mağara, uma tumba romana, que provavelmente chegou a ser usada como capela pelos Bizantinos, que pintaram alguns frescos no seu interior. Com uma inscrição grega na fachada, este é das poucas tumbas romanas a ter qualquer tipo de ornamento. A caminhada, embora longa, foi bastante agradável, rodeados por uma paisagem impressionante, mas a chegada decepcionante. Para quem visitou as tumbas de Dalyan, as de Amasya deixam de ser surpreendentes, especialmente porque estão fechadas a visitas (pelos vistos, devido a casais que gostavam de passar bons momentos nos cantos mais obscuros) e só nos podemos ficar pelo exterior. Valeu a pena simplesmente pelo percurso.
De volta à cidade, decidimos explorar o lado oposto do rio, mais umas quantas mesquitas e outras tantas casas otomanas, mas uma fantástica medresesi octogonal, a Büyük Ağa Medresesi, um espécie de escola onde se estudava o Al-Corão. Neste momento, ainda serve de seminário para rapazes que se pretendem tornar hafız (teológicos que sabem o Al-Corão de cor).
Terminámos o dia com uma extenuante escalada na montanha central, onde pudemos explorar mais algumas tumbas romanas (igualmente decepcionantes, mas com vistas soberbas sobre a cidade) e as ruínas do Palácio das Maidens, que, pelo que parece, era uma espécie de harém. Ainda tentámos chegar ao topo e alcançar a citadela, mas fomos forçados a desistir da ideia quando nos apercebemos que a luz do dia já começava a deixar de ser suficiente.

Regresso ao hotel, nais um banho à gato e cama.
Dia seguinte, 10h30, otogar: de partida para Tokat.

1 comment:

mikas said...

babe, andas ka k umas piadinhas...devem ser influencias do ar turco! eu k ja a uns tempos respiro ar tuga, nao entendo ja essas breves humoristicas turcas, apesar de sentir necessidade de as sentir...lol
diverte-t mui, se bem k e essa a sensaçao k das, e nao e de admirar...seni seviyorum, apesar das jokes...