Wednesday, February 08, 2006

Cartoons

Finalmente uma opinião com que concordo.

Dando de barato que muitos dos desenhos são uma generalização perigosa, racista e por isso condenável (até de um ponto de vista legal), a sua existência é um facto.
Ora existindo e tendo sido difundidos, cabe a todos os que querem deixar um futuro melhor para os filhos lutar pela sua existência, não vergando, em circunstância alguma, a espinha a quem ficou incomodado e se acha no direito de rebentar com tudo à sua frente.

O problema, a haver problema, é para ser apresentado ao sistema judicial da Dinamarca (e eventualmente dos países onde foram publicados), isto no caso de haver indívíduos que pretendam algum tipo de reparação e/ou condenação dos artistas. E depois é aguardar com paciência que a Justiça se pronuncie sobre os putativos ilícitos.

Que alguns líderes do Islão não percam uma oportunidade que seja para virem para a rua armados em guardiões da moral suprema, não devia ser qualquer coisa capaz de amedrontar a Europa desta maneira.

Isso é que assustador.


by PBM, in Aos 35.

10 comments:

Alexandre Caetano said...

Ah! Concordo também. Era o que eu tinha na mente. Eles agora por tudo e por nada aproveitam para se revoltarem contra o ocidente. Eu defendo a teoria que eles andam a "provocar" para ver se os atacamos, para eles contra atacarem podendo criar mais mortos e feridos do que nunca. Espero que seja uma tese estúpida mas é o que agora me passa pela cabeça quando vejo estes povos a manifestarem pelas coisas mais pequenas.

Alexandre Carvalho said...

Quando a questão é a sobrevivência, acho compreensível o levantamento dos povos que foram atacados por nós. Sim, porque permite-me lembrar-te que quem meteu o bedelho onde não era chamado fomos nós. Ou tu viste nos últimos tempos algum povo islâmico a ocupar um país ocidental, à semelhança do que acontece actualmente no Iraque ou no Afeganistão? É preciso lembrar-te de Guantanamo ou de Abu Ghraib? Obviamente que não estou a tentar defender o 11 set em NY ou o 7 de julho em londres, mas o fundamentalismo islâmico, embora não concorde com ele, tem bases (muito) sólidas para existir.

Mais, falares em 'eles' é também errado. Os povos islâmicos são de uma heterogeneidade que não nos passa pela cabeça, e muito menos verdadeiro é pensar que eles são todos fundamentalistas. Sim, mesmo quando eles combatem as tropas 'libertadoras' no sul do iraque.

Mais uma vez repito, não sou a favor de fundamentalismos, mas acho compreensível quando se é constantemente atacado, que às vezes as coisas pequenas façam mossa. Mas não é por isto ou por aquilo Alexandre, é pelo o acumular das várias situações.

Para finalizar, devo confessar que não concordo NADA com a primeira frase desse post:

Dando de barato que muitos dos desenhos são uma generalização perigosa, racista e por isso condenável(...)

É humor por amor de deus (seja qual for a religião que ele professar)!! O que é que seria se começássemos a rever este tipo de humor:

O Calvin & Hobbes seria censurado pois não se pode generalizar que as crianças tenham uma capacidade retórica daquele tamanho, e os seus amigos imaginários são uma clara ameaça à sanidade das nossas crianças.

O Garfield provavelmente era banido por antropomorfizar os animais e por ser um lobby das lasagnas no mundo cartoonístico.

O Super Homem não existia porque as pessoas não voam, e pode fazer com que pessoas ao tentarem voar morram pq saltam de um prédio de 10 andares. Pela mesma razão o Son Goku não existia.

Bandas Desenhadas do fantástico, não podiam ser divulgadas, porque não há super-heróis com super-poderes, que destroem o novo monstro que se dirige para as grandes cidades pa devorar as pessoas, porque poderia instalar o medo nas crianças de sair à rua.

Acho que já perceberam onde eu estou a chegar... A banda desenhada, e o humor em particular é generalista: as crianças não são todas como o calvin nem os gatos como o garfield. E opiniões como as desse senhor que acabaste de citar, só levam em última instância à censura, seja ela de que índole for: de consciencia, religiosa, política, ideológica, etc.

A melhor maneira de saber lidar com uma coisa é sabermos rir-nos dela. E com isto espero ter apimentado esta discussão... ;) quero feedback, senão fico desiludido.

Susana Nunes said...

Comigo não apimentaste, embora tenha apreciado bastante o teu comentário =), porque concordo quase plenamente contigo. Aliás, a minha reacção inicial foi de completo apoio aos dinamarqueses e ao ocidente.
Mas, após algum tempo de reflexão, começo a achar que a intenção de publicar os cartoons foi exactamente com vontade de provocar (Obelex: se assim foi, nós é que os andamos a provocar para ver se temos uma desculpa para entrarmos em guerra).
Outro aspecto: já não é a primeira vez que publicidades são retiradas do mercado por "ofenderem os valores cristãos", como aquela que retratava a última seia mas com mulheres no lugar de Cristo e dos apóstolos. Se nem nós nos toleramos a nós mesmos, como é que nos damos ao direito de exigir isso dos outros?
Quanto à questão da primeira frase, eu também não concordo plenamente, mas temos de ter consciência que religião é, e sempre foi, um dos temas mais delicados e sensíveis para a maioria das sociedades (mesmo para a ocidental).

Alexandre Caetano said...

seia c S? -_-

Susana Nunes said...

Lolol... Decididamente quando voltar para Portugal vou ter de me inscrever em aulas de português novamente... De qualquer maneira tenho a desculpa do teclado ser diferente e ter os caracteres todos desordenados. =P
De qualquer maneira, fico à espera de uma reacção ao comentário mais a nível de conteúdo...

Alexandre Carvalho said...

As razões pelas quais os mustafás (n levem como insulto, é uma tentativa de sarcasmo) estão 'aborrecidos' connosco:

1 - Aquando da queda do Império Otomano (queda essa que não está livre da ingerência de países como a Inglaterra, França, Aústria e Rússia), corremos atrás daqueles territórios que nem suínos oportunistas em ânsia de passar a perna a quem corria a nosso lado.
2 - O conflito israelo-palestiniano é culpa NOSSA. Não é no mínimo justo reconhecer a soberania a um estado num dado território e não reconhecer a soberania do povo que já ocupava aquele território previamente! Ainda para mais, foi reconhecida a soberania a um Estado (Israel, portanto) fundada sobre a filosofia do Sionismo, isto é expansão territorial (ou seja, já era mau eles terem aquele território quanto mais terem desejos expansionistas). Mas é sempre bom ter uma potência regional naquele território que seja favorável ao Ocidente...
3 - Iraque. A verdadeira razão da guerra é sobretudo a questão económica: não é por acaso que meses antes o governo iraquiano tinha decidido 'borrifar-se' para as sanções impostas pelos EUA no que toca à produção de petróleo (na Guerra do Golfo tour 90-92) e preparava-se para começar a transaccionar esses mesmos barris em euros. (obelex: andando tu em finanças - julgo eu - não será difícil compreender o porquê considerar esta alteração uma verdadeira ameaça económica aos EUA).
4 - Irão. Síria. É curioso referirem estes países como pertencentes ao eixo do mal. Ora vejamos: A Síria é uma ovelhinha se compararmos este governo com o da Arábia Saudita. Ah, mas a síria dá jeito para avançarmos geograficamente: já nos metemos no Iraque, no Afeganistão, no Líbano, faz sentido continuar para a Síria, assim ligamos tudo de uma ponta (israel) à outra (afeganistão). Só falta mesmo o Irão para fazer o pleno. Ah o Irão, aqueles safadotes andam a criar energia nuclear. Não é que seja proibido (não é), ter energia nuclear, mas eles podem usá-la para a fabricação de armas nucleares (como por exemplo, Israel... ups....), ou como a Rússia, os Eua, O Reino Unido, a França... Ironia das Ironias: a ONU tem, como devem saber um organismo que é a Agência Internacional para a Energia Atómica. Esta agência reuniu-se em Setembro último e uma das questões que estava em mesa paralela com a de Israel era a da energia nuclear do Irão. Ironia das Ironias, decidiu-se fazer 1 'demonstração confiança ao estado de Israel' apoiando-o; quanto à questão iraniana (certamente, muito mais premente): NÃO FOI DISCUTIDA NEM DEBATIDA no AIEA, tendo sido decidido que tal matéria seria abordada no Conselho de Segurança. Ah e esqueci-me de dizer que o 'presidente' desta agência era israelita...
5- Afeganistão: os talibãs são os maus da fita. Curioso que, apesar de serem uma minoria fundamentalista, foram apelidados na década de 80 de 'freedom fighters' pelo governo federal americano, aquando da invasão da URSS naquele país. É curioso (eu rio-me imenso com isto, tou mesmo que nem posso) que a Al-Qaeda foi TREINADA E FINANCIADA por grupos económicos...americanos. Ainda mais curioso é lembrarmo-nos que o 11 Set surgiu meses depois de o tráfico de ópio (q é a base de sustento daquela gente) do Afeganistão - e que desse tráfico 75% dirigia-se para os EUA - ter sido saqueado e recambiado... para os Estados Unidos. coincidência? i don't think so.

é favor lembrar que destes pontos que enumerei, apenas o primeiro não se refere aos últimos 5 anos deste mundo naquele país. olha para um mapa do médio oriente e vê: a ingerência das potências ocidentais naquele território está em todo o lado. Curioso constatar que é das regiões mais ricas em recursos naturais - leia-se petróleo - em todo o mundo.

peço desculpa pela extensão do comentário, não quero de forma alguma monopolizar a discussão :P

Susana Nunes said...

Pois, realmente é compreensível que o acumular de tensões tenha levado a uma explosão de reacções devido apenas à publicação de cartoons.
Cada vez tenho menos dúvidas de que se tratou de uma provocação intencional (o mesmo jornal tinha-se recusado uns anos antes a publicar cartoons relacionados com a religião católica, por os considerar ofensivos) e, por isso mesmo, não há como ficar do lado do ocidente. É indesculpável.

Alexandre Carvalho said...

não acho que seja uma questão de ocidente vs. oriente, mas uma questão de certos valores em detrimento de outros. e aí escolho a liberdade.

Susana Nunes said...

Claro que se a questão fosse apenas essa também escolheria a liberdade. Mas esta situação não é assim tão simples. Se se tratasse apenas de liberdade de expressão ou de censura, o jornal que publicou as caricaturas teria feito o mesmo quando se tratavam de caricaturas sobre a religião católica. Por isso, acho que, antes de qualquer outra discussão, temos de ver até que ponto é legítima esta desculpa com a liberdade de expressão. Sendo a liberdade de expressão um valor fundamental no jornalismo, até que ponto devemos permitir que sejam feitas manipulações deste género? No caso concreto do jornal dinamarquês, tenho a certeza de que não poderiam ter arranjado melhor camuflagem para uma grande provocação intencional. É claro que todas as discussões que se seguiram e todos as acções em prol da defesa da liberdade de expressão são mais que legítimas e louváveis, mas, para mim, não surgiram por um motivo correcto.

Susana Nunes said...

Mais um pormenor: uma semana após a publicação das caricaturas, constatando a ausência de reacções por parte da população islâmica, o jornal publicou um artigo que questionava o porquê desta ausência de reacções. No mínimo suspeito, não?
Um conselho - leiam este artigo: http://www.wsws.org/articles/2006/feb2006/denm-f10.shtml .