Friday, April 27, 2007

Inside the skins

Excertos da entrevista de Luís Ribeiro, em Madrid, a Antonio Salas, o único jornalista que conseguiu infiltrar-se no movimento skinhead espanhol.

Diz que 90% dos neonazis se distanciam dos movimentos quando conseguem uma relação estável ou uma família. O nazismo é apenas uma forma de preencherem uma vida vazia?
Eles entram muito jovens e quando atingem a sua primeira relação emocional, quando se casam ou têm filhos, ou quando têm o seu primeiro trabalho sério e entram dentro do capitalismo, compram um carro ou uma casa, aos poucos vão-se desligando do movimento skin.

Convertem-se ao capitalismo que tanto odeiam?
Claro. Tal como os jovens comunistas. Quando me infiltrei nos movimentos de extrema-esquerda, percebi que o sentimento desses jovens idealistas que querem acabar com o sistema se alivia quando têm o seu primeiro carro ou casa. O idealismo dos skins é igual: um fenómeno universal de juventude de luta por ideais.
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Mas largar o movimento não significa deixar de ser racista ou xenófobo...
Claro. O racismo está intimamente ligado ao nacional-socialismo. A minha conclusão foi que uma imensa maioria de rapazes e raparigas são idealistas que realmente acreditam em todas estes disparates da supremacia da raça branca, da Europa branca. Mas uma das coisas que os fez aperceberem-se do absurdo foi saberem quem está por detrás. E foi esse o meu objectivo. Escrevi o Diário de um Skin para eles, para ir mais além do que eles próprios conhecem, explicar-lhes como são utilizados pelos líderes dos clubes de futebol, dos partidos, do tráfico de mulheres. [Um dos cabecilhas que Antonio Salas conheceu é dono de vários bordéis e recruta mulheres africanas e brasileiras, apesar do seu discuros anti-prostituição e anti-imigração.]
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Outra inconsistência é concordarem com acções terroristas islâmicas, apesar de todo o seu ódio aos mouros. Isso notou-se no 11 de Setembro?
No 11 de Setembro, muitos nazis espanhóis felicitaram os terroristas, por terem atacado o centro aconómico judeu dos EUA. Mais do que o integralismo islâmico, os nazis apoiam qualquer causa contra os judeus, como a Palestina. O inimigo do meu inimigo é meu amigo.
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Culpa dos jornalistas?
Nós temos a obrigação de dar a conhecer a realidade social. É para isso que trabalhamos. No caso de Diário de um Skin, recebi algumas críticas, por lhes dar publicidade. Mas a resposta a isso está nas centenas de mails que recebi de miúdos a largar o movimento por se aperceberem que aquilo não era exactamente como lhes contavam.
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Quem apoia financeiramente estes grupos?
Distribuidoras discográficas e editoriais, clubes de futebol (que também se alimentam deles: as claques ultra são das maiores consumidoras de material de merchandizing). E este apoio é descarado e absoluto.

Por que razão é que os clubes de futebol ajudam as claques com tendências neonazis?
Essa é outra das coisas que não percebia, antes da investigação. Primeiro, porque muitos dos membros de um grupo ultra, como os 1143, em Portugal [Sporting], são sócios do clube. Votantes, que podem decidir quem vai ser o próximo presidente. No caso dos Ultrassur, do Real Madrid, eles apoiavam o «seu» candidato. Mais: eu saí literalmente afónico do estádio, a apoiar a equipa a gritar durante 90 minutos. Ninguém grita mais alto dos que os ultras. E isso até os jogadores notam, sobretudo quando jogam fora. Não lhes importa [aos clubes] que depois, fora do estádio, matem um negro. Daí que os jogadores posem para a fotografia com produtos dos ultra, como fizeram Figo, Guti, Casillas, Raul. Quanto vale um spot publicitário destes? Quanto vale a imagem de um Figo a anunciar os produtos que vendem?

Os clubes fazem tudo o que podem para ajudar a suprimir os neonazis das suas claques?
Só quando matam alguém. Quando ocorre uma morte, os meios de comunicação dão-lhe uma repercussão mediática e os clubes vêem-se obrigados a fazer alguma coisa. Mas é muito difícil para um clube renunciar aos seus ultras. Pelo apoio, pelo merchandizing que eles compram. E também por medo. Há o caso de jogadores que foram agredidos por ultras, como aconteceu no Atlético de Madrid, por não lhes dar apoio público. Esse também é um factor a ter em conta.

O futebol é o que provoca a violência ou apenas uma justificação?
É só uma justificação. Essa violência está presente em qualquer acto da comunidade skin. As letras das canções, os discursos políticos, o ódio que se renova todos os dias. Além disso, o futebol é também um meio de fazer passar a imagem. As bancadas transformam-se, nesse momento, numa TV para o mundo. Eles sabem que num jogo há mais câmaras do que em qualquer manifestação de neonazis. Uma simples faixa contra a imigração será vista em todo o mundo.

Qual é a importância da música no movimento?
Fundamental. A primeira vez que me apercebi dessa importância foi com um grupo português, os Evangélico. Fazem parte da Ordem Lusa, uma das organizações mais antigas em Portugal. A música é o meio para transmitir a mensagem aos jovens. Um rapaz de 16 anos aborrece-se com um encontro político sobre a história da supremacia racial. Num concerto, a mensagem é transmitida com muito mais força e energia do que 40 meetings políticos. A música dos grupos patrióticos e nacionalistas não é apenas música, é propaganda política.
(...)

Na Visão.

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