Ele entrou em casa. Descalçou os sapatos. Sentou-se no sofá.
Sem desviar o olhar da televisão que ligara, disse:
- Trazes-me qualquer coisa fresca para beber?
Ela entrara em casa minutos antes. Apanhara já a roupa que secara demais.
Começara a preparar o jantar.
As crianças, que fora buscar à escola exigiam atenção e mimos.
Ele sentado no sofá, as mãos no comando da televisão, os dedos colados ao ecrã, repetiu:
- E o que te pedi?
Ela abriu o frigorífico e levou-lhe uma cerveja mole e cansada com gestos indiferentes de criada.
Ele perguntou sem a olhar:
- Que é o jantar?
Comeram em pratos rachados, dias vazios.
Sentados na rotina.
Beberam o silêncio de muitos anos.
Trocaram frases vazias sobre o dia a dia.
Calaram a verdade para não estragar a refeição.
Ela deitou as crianças. Arrumou os brinquedos com que tinham ocupado mãos e tempo.
Ele sentou-se no sofá vendo imagens e trocando canais.
Ela sentou-se no sofá vendo nada querendo trocar canais.
Por: Encandescente.
1 comment:
fantástico!
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