«(...) E, de repente, lá estava ela, arrived, assim, escarrapachado, a piscar, no placard das chegadas, e pronto. Face à inevitabilidade do reencontro, deu-lhe o pânico, quis fugir, faltou-lhe o ar; inspirou fundo, limpou-se do suor que lhe cascateava pelo corpo, mas escapou-se-lhe um fio salgado, que escorreu vértebras abaixo. Como haviam tido a veleidade de achar que um oceano entre eles, durante alguns meses, seria coisa pouca, um mosquito fraquinho a picar em vão a pele de um amor que eles pensavam endurecido, resistente às nódoas, curtido pelos anos? Que ingénuo fora.... Onde estava agora a imagem dela, onde? Quem era aquela do lado de lá do vidro da alfândega, à espera das malas onde traria consigo as memórias dos meses que eram só dela e que não eram dele? Traria dentro de alguma, a cor certa dos olhos de alguém, um pestanejar corrido ao sabor de salivas trocadas? E escondido na necessaire, entre a a água de colónia e o creme de noite, traria o cheiro palpável dos cabelos de quem? E dentro do livro que lera no avião, a marcar a página, estaria a lembrança perfeita de uma outra mão, com dedos medidos a regra e esquadro? Talvez, sim, talvez.
Talvez a distância, afinal, não consolide nem comprove nada, antes pelo contrário; talvez seja apenas uma grande filha da mãe e se finja amiga e depositária de tesouros mas de facto nos impeça de acarinhar o que está longe.
Pronto, estava decidido: a distância era o maior de todos os males, o inimigo declarado; mas a distância física mesmo, aquela feita de passos em sentido contrário, que transforma íntimos inseparáveis em estranhosinimigos, costas com costas, contando e andando, um, dois, três, sempre a contar e sempre andar, cada vez mais longe até se esquecerem das razões pelas quais se queriam bater e se esfumarem no nevoeiro matinal , sob o peso da lonjura.
Lixada, esta coisa da lonjura. Dos quilómetros entre. Nunca deixem que lhes digam que não é assim, que um verdadeiro Amor resiste a meses, a anos e a quilómetros a fio. O tanas, é o que é. (...)»
Por: vieira do mar.
3 comments:
Susana, era só para avisar que me enganei: não tinha postado o texto definitivo, mas apenas o "ensaio". Dei agora pelo "erro" e publiquei-o e ficou um bocadinho diferente (só um bocadinho, duas ou 3 frases, meia dúzia de palavras). Peço desculpa por esta "alteração" de última hora e obrigada por mais esta referência. :)
Obrigada eu pelo aviso. Já está corrigido... =)
O último parágrafo... não há como ficar indiferente a ele. especialmente quem já sofreu tantas desilusões amorosas com base nesta 'verdade'.
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