Thursday, June 16, 2005

«PAUSA»

«Durante o coffee break, Durão Barroso fala animadamente com um burocrata de Bruxelas:

— E sabe que mais? O défice que eu deixei lá em Portugal, quando me vim embora, era assim deste tamanho.
— Desse tamanho?
— Deste tamanho. Devia ser 3%, não o ignoro, mas veio por ali acima e olhe, no momento em que aqui cheguei, já devia andar pelos 6%. O Santana Lopes, aquele tipo do meu partido que ficou para apanhar os cacos, está a ver, é que se lixou. Por um lado, preferiu esconder a dimensão do monstro e fingir que estava tudo bem, tão bem que até chegou a anunciar o fim da austeridade e uma folga no cinto apertado dos portugueses, como se isso fosse possível (risinhos). Por outro, meteu-se em tantas trapalhadas que acabou por ir ao fundo nas eleições de Fevereiro. Uma coisa chata, mas enfim, o que é que se há-de fazer? Em democracia é assim mesmo.
— E agora? — perguntava o burocrata de Bruxelas.
— E agora? Olhe, agora o Sócrates que resolva o assunto e que se lixe, ele também, com as suas próprias asneiras, mais o ódio que as classes afectadas pelas medidas de contenção lhe vão dirigir. Isto toca a todos, meu amigo, isto toca a todos. Em democracia é assim mesmo. Quer dizer, toca a todos menos aos que têm a esperteza de fugir a tempo, n'est-ce pas? (Gardalhadas estridentes; Durão ri-se até às lágrimas e depois limpa-as com um lenço de seda.) Ai, ai. Vamos lá fazer uma pausa.
— Uma pausa? Mas se estamos a voltar do coffee break, Monsieur Barrôso! Nom de Dieu, não admira que o vosso país esteja como está...
— Calma, não é nada disso, caro funcionário burocrata de Bruxelas. Percebeu mal. Referia-me à pausa no processo de ratificação do Tratado Constitucional que vou pedir na conferência de imprensa, daqui a pouco.
— Ah, OK, OK. Assim está bem, senhor Presidente da Comissão. Já me estava a assustar.
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