Tuesday, October 05, 2004

Nova Censura?

Crítica: ministro apela à alta autoridade
GOVERNO VOLTA A ATACAR MARCELO

O ministro dos Assuntos Parlamentares afirmou ontem estranhar o silêncio da Alta Autoridade para a Comunicação Social em relação aos comentários de “ódio” feitos pelo ex- presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos na TVI.
O ministro dos Assuntos Parlamentares disse estar revoltado com as falsidades de Marcelo Rebelo de Sousa.
Momentos antes de participar na cerimónia de posse da concelhia do PSD/Viseu, Rui Gomes da Silva disse sentir-se “revoltado com as mentiras” e com as “falsidades” que são proferidas todos os domingos “por um comentador que tem um problema” com o primeiro-ministro”, Pedro Santana Lopes. “Em toda a Europa, trata-se de um caso único. Não há em país algum uma pessoa a perorar 45 minutos sobre política sem ser sujeita ao contraditório e apenas a defender os seus interesses pessoais”, justificou o membro do Governo. No seu último comentário na TVI, no domingo, Marcelo Rebelo de Sousa criticou a tolerância de ponto de ontem concedida pelo Governo de Pedro Santana Lopes, dizendo que essa decisão “é pior do que o pior” do ex-primeiro-ministro António Guterres. Além disso, o ministro dos Assuntos Parlamentares aproveitou para anunciar que o Governo vai tomar uma iniciativa legislativa para impedir que dirigentes políticos sejam proprietários de empresas de sondagens, Rui Gomes da Silva referiu ainda não ter sido tomada a decisão sobre a forma como se concretizará essa alteração à lei das sondagens, se por decreto-lei, se através de uma proposta de lei a apresentar à Assembleia da República. Recorde-se que tanto o primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, como o ministro da Defesa, Paulo Portas, estiveram ligados a empresas de sondagens.
Correio da Manhã, 5 de Outubro de 2004

Não sei ao certo que autoridade tem o Ministro dos Assuntos Parlamentares, mas era só o que faltava aparecer alguém com vontade de criar uma nova lei ou decreto que proibisse a liberdade de expressão.
É verdade que soube bem a toda a gente passar mais um dia em casa, por causa da tolerância de ponto. Mas, também não se pode negar que, na crise em que o país está, esta decisão não foi a mais correcta. Provavelmente, foi mesmo só para calar um pouco os funcionários públicos.
Quanto ao assunto das empresas de sondagens também há algo que não me parece muito bem. Será que os ministros têm imparcialidade suficiente para as dirigir? Duvido muito.
Por isso, seja Marcelo Rebelo de Sousa boa pessoa ou não, tem toda a razão no que diz. E mesmo que não tivesse, a censura já acabou há muito tempo, pelo menos na teórica.

11 comments:

Alexandre Caetano said...

Não gosto do Marcelo. É arrogante e pensa que te resposta para tudo...

Susana Nunes said...

Acho que não percebeste o ponto de vista do post... O importante não é se o Marcelo Rebelo de Sousa é ou não boa pessoa e/ou comentador, mas sim a reacção do governo em relação ao seu comportamento. Tal como reagiu mal aos comentários do Marcelo Rebelo de Sousa, também poderia ter reagido assim em relação a qualquer outro que tivesse a mesma lata dele.

Alexandre Carvalho said...

sim lá pq o gajo sabe ou faz q sabe n significa q o possamos calar sem interferir na sua liberdade... e a nossa liberdade acaba qdo começa a dos outros, pelo menos foi o q me ensinaram... fica uma curiosidade sobre as sondagens... a sondagem feita á universidade moderna (do nosso paulinho portas) foi feita por uma empresa q quem mandava e orientava o estudo feito foi.. um ex-subsecretário de estado do goiverno de durão barroso e paulo portas... coincidência n é? e já agr, esse mesmo senhor (cujo nome n me ocorre agr) tb testemunhou no caso judicial da moderna e foi a testemunha decisiva para q o paulo portas fosse tb ele apenas testemunha e não réu... a vida tem destas... coincidencias...

Susana Nunes said...

É verdade. Tens toda a razão.
Agora há uma novidade para acrescentar a este assunto: Marcelo Rebelo de Sousa saiu da TVI. Já la estava há 4 anos e parecia estar tudo no bom caminho, até acontecer este pequeno incidente. Dizem que se demitiu. Será?

Alexandre Caetano said...

Epah... o que o gajo quer é subir na vida. Isto foi tudo um golpe estratégico! Politiquices... Mas acho muito bem, não por ele, mas sim por mim, quanto mais tempo ele se mantiver afastado dos ecrãs, melhor.

Alexandre Carvalho said...

acabei de ver um debate do estado da nação na rtp em qse falou precisamente disto mesmo. e devo dizer q, embora seja um argumento simplista, tem muito de verdade, e eu passo a transcrever o meu camarada antónio filipe qdo diz q portugal está a entrar na onda da berlusconização. q rumo é q estamos a tomar qdo o governo ataca um comentador q o critica, e q, através da media capital (onde o governo tem interesses económicos, e onde se insere um dos principais accionistas da tvi) consegue pressionar o Dr. Marcelo Rebelo De Sousa (reparei agr q ele tem o mm apelido q eu.. de sousa lol) a demitir-se, afirmando qq coisa deste género: «a partir deste momento cessarei as funçoes de comentador na tvi, QUE SEMPRE EXERCI COM TOTAL LIBERDADE»... OH MEUS AMIGOS, nós não somos burros nenhuns para n percebermos q ele foi forçado a demitir-se. eu podia entrar no caminho mais irónico, e perdoem-me, irresponsável e dizer: ah também não curto o homem, até é melhor assim. mas isso seria desviarmo-nos do verdadeiro ponto de discussão, q é a liberdade de expressão. eu efectivamente n concordo com 90% do q o homem defende, mas preocupa-me q provavelmente a maior conquista de abril q foi a liberdade de expressão esteja a ser seriamente atacada... é esta a verdadeira ferida, n é o marcelo rebelo de sousa ter-se demitido, pq para o lugar dele n faltam pessoas... tenho dito. Saudações Revolucionárias (ou n.. lol)

Alexandre Carvalho said...

Só mais uma coisinha, q me esqueci de mencionar...
Na primeira frase do artigo vem: «O ministro dos assuntos parlamentares afirmou ontem estranhar o silencio da Alta Autoridade para a Comunicação Social em relação aos comentários (...) feitos pelo (...) Marcelo Rebelo De Sousa. Eu não sei se vcs sabem, mas á uns tempos foi deliberado em assembleia da república q a alta autoridade para a comunicação social n teria poder pra exercer qq tipo de pressão nestes casos exactamente para assegurar a liberdade de expressão... A ironia disto, é q foi aprovado com os votos favoráveis do psd, militante onde está filiado o actual ministro dos assuntos parlamentares!... Ai, a ironia... ;)

Susana Nunes said...

Bem... que discussão para aqui vai. Mas acho muito bem. É essa a principal motivação para a existência dos blogs, na minha opinião. É por esse motivo, também, que procuro comentar sempre assuntos da actualidade e que tenham muito que se lhes diga.
Quanto ao assunto assunto do post, realmente é impossível não concordar com o Sr. Alexandre Carvalho ( =P ). Tudo o que se tem passado mostra o quanto é frágil a tão proclamada liberdade de expressão. Se se pode "calar" um comentador tão conhecido e com uma posição tão proeminente nos nossos dias (quer queiram, quer não, as suas palavras entram nas casas de muita gente e são muito bem aceites), então não será muito difícil "calar" qualquer outra pessoa. Isto na teórica é inaceitável e negado por todos, mas na prática passa ao nosso lado, quase imperceptível. E não me parece que isto deva ser mais um assunto para ser "arrumado na prateleira" e esquecido, como muitos outros têm sido. É demasiado importante para isso. A liberdade de expressão é um direito de todos e não pode ser violado por motivo algum.

Susana Nunes said...

Em relação a este assunto recomendo a leitura deste site: http://atrasado-mental.blogspot.com/2004_10_01_atrasado-mental_archive.html#109724067235794721 . Muito interessante. =P

Susana Nunes said...

Ainda em relação a este assunto:

"O Retrato do 'Cabaret'"

No início deste mês, o programa Cabaret da Coxa, da SIC Radical, deixou de ter na decoração das paredes o retrato de santana Lopes. «Recebemos um telefonema da parte do primeiro-ministro a solicitar que o retrato fosse retirado. Chegaram a ameaçar com um processo. Como não queríamos ferir susceptibilidades, optámos por retirá-lo. O espaço vai ficar em branco: Santana Lopes vai ficar presente de uma forma ausente», explica o apresentador Rui Unas à Visão. Do gabinete de imprensa do primeiro-ministro vem a confirmação do telefonema para a SIC Radical, mas a alegada ameaça do processo é negada. «Não é normal que o retrato do primeiro-ministro sirva de decoração num programa daquele tipo. Não se fez ameaça nenhuma, simplesmente perguntou-se se havia sido pedida alguma autorização para se usar a imagem do primeiro-ministro», afirma fonte do gabinete."

Visão, 14 de Outubro de 2004

Agora pergunto: será que isto não começa a parecer demasiado familiar? Será que não nos faz recordar de tempos, a que, felizmente, a nossa geração não teve oportunidade de assistir, mas de que já muito ouvimos falar?

Susana Nunes said...

Como seria de prever, esta caso continua a dar muito que falar. Finalmente, Marcelo resolveu quebrar o silêncio.

«Em declarações na AACS
MARCELO CONFIRMA PRESSÕES DE PAES DO AMARAL

Marcelo Rebelo de Sousa afirmou esta quarta-feira, perante a Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS), que o presidente da TVI, Miguel Paes do Amaral, lhe impôs um prazo para que repensasse o teor das suas intervenções nas edições de domingo do Jornal da Noite.
O ex-comentador confirmou que na reunião urgente pedida pelo presidente do grupo Media Capital, Paes do Amaral salientou o facto de o licenciamento das TVs estar dependente do Governo e como ela é diferente da imprensa escrita como espaço de liberdade de opinião", pelo que era "inaceitável que existisse uma opinião sistematicamente anti-governamental".
Depois de explicar a sua concepção de serviço televisivo, e em jeito de conclusão, o presidente da TVI terá considerado "inevitável haver uma remodelação interna", pelo que "convidava" o ex-presidente do PSD a "repensar as orientações das intervenções" num prazo de duas a três semanas e que essa urgência se devia à entrada da RTL no capital da TVI. Marcelo recusou alterar o procedimento que se mantinha nos quatro anos e meio de comentários naquela estação televisiva, pelo que a única hipótese foi sair. O comentador anunciou a demissão no dia seguinte à reunião com o 'patrão' da TVI.
Na AACS, o ex-comentador começou por explicar que não esperava que Paes do Amaral revelasse a conversa entre ambos, pedida pelo presidente da Media Capital com "carácter de urgência" e uma vez que nunca foi totalmente coerente nas declarações que fez após confirmada a saída de Marcelo.
Na audiência de hoje, Marcelo Rebelo de Sousa manifestou também a sua estranheza pelo facto de o director de Informação da TVI, José Eduardo Moniz, não ter estado presente na reunião com Paes do Amaral.
Recorde-se que o presidente da Media Capital garantiu, na Assembleia da República e na AACS, que na conversa com Marcelo não falou sobre o conteúdo das intervenções dominicais do 'professor', alegando que o chamou apenas para discutir assuntos estratégicos da TVI.

"CABALA INVOLUNTÁRIA NÃO EXISTE"

Sobre as declarações do ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, que desencadearam todo este processo, Marcelo referiu que qualquer cidadão pode ou não discordar de determinadas declarações e que “valem mediante o relevo das pessoas que as proferem”.
Em relação ao que o ministro chamou de “cabala involuntária” de diferentes órgãos de comunicação (Expresso, Público e TVI), o ex-comentador afirmou que essa expressão era muito grave e que era “uma ofensa à inteligência dos portugueses”, uma vez que não existe. Ao falar em nome do Governo, Gomes da Silva – segundo Marcelo - mostrou um total desconhecimento em relação ao panorama dos Media em Portugal, uma vez que em todos os órgãos de comunicação social existem espaços de opinião, onde não há o principio do contraditório.
O ex-líder dos sociais democratas disse ainda que é "inexequível" o contraditório em todos os jornais, rádio, Tvs, etc. Marcelo Rebelo de Sousa relembrou também que Santana Lopes e Paulo Portas tiveram, antes de entrar no Governo, espaços de opinião nas televisões, onde manifestavam opiniões sobre todas as matérias sem que eventuais visados estivessem presentes em estúdio para rebater.»

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=136484&idselect=9&idCanal=9&p=94