Thursday, December 30, 2004

Para ti...

Porque é que há tanta coisa que gostaria de te ter dito e não disse? Falta de oportunidade? Falta de coragem? Não sei. Se calhar, na altura, nem sequer tinha importância. Mas, desde que foste embora, tenho pensado muito nisso. E em ti. Não entendo como não te disse para não desistires, para não te entregares. Provavelmente, porque pensava que eras a pessoa mais forte do mundo, que serias capaz de superar qualquer coisa. Sabia que já o tinhas feito antes, por isso acreditava que o conseguirias novamente. Mas não. Passaram dias, meses, anos, e, a pouco e pouco, foste desaparecendo da minha vida. Podia continuar a ver-te todos os dias, mas não era a mesma coisa. Não quis aceitar a tua derrota. Achava que tinhas o dever de continuar a lutar, por mim, por todos nós. Ao mesmo tempo que crescia o medo de te perder, foi crescendo uma grande revolta. Julgava que te conhecia como a mim própria mas, afinal, nem a ti, nem a mim. E foi duro enfrentar isso. No dia em que finalmente te foste, fiquei quase indiferente. Nem me fui despedir de ti. Ainda hoje não sei se foi por cobardia ou por não querer enfrentar a situação. E durante muito tempo me culpei por isso. Por isso e por não te ter ajudado quando mais precisavas. Porque quem desistiu, afinal, não foste tu, mas eu, ao afastar-me de ti. Mas como foi difícil para mim perceber isto! Como demorei a perdoar-te. E como demorei a chorar a tua ausência. Sei que não merecias isto. Nem nada do que te aconteceu. Afinal, eras a melhor pessoa que eu conhecia. Gostaria agora de te dizer que muito me arrependi por não ter estado à tua altura, por ter fugido. Mas, no exacto momento em que percebi que te tinha perdoado e que nem sequer havia nada de que te pudesse culpar, perdoei-me a mim também. E agora estou em paz contigo (e comigo). Não sei se te apercebias que te tentava ignorar quando querias apenas conversar com alguém, quando querias um pouco de companhia ou que eu te lesse um livro... Acho que tentava era ignorar aquilo que sentia. Mas espero que não seja tarde agora e que, onde quer que estejas, ainda me queiras ouvir.

Susana Nunes

2 comments:

Alexandre Caetano said...

Pois é... A morte é uma coisa dura e só sentimos a falta da pessoa em questão depois do seu desaparecimento físico. Agora nós não podemos/devemos ficar abalados com a morte dessa pessoa. É duro, também perdi o meu padrinho quando tinha 12 anos, e ele com 34. Hoje em dia quando vou ao cemitério, falo com ele, ou pelo menos acho que falo. Mas o que mais me encomodou nem sequer foi a morte dele, foi a razão pela qual ele morreu. Enfim... É a lei da vida, ninguém fica cá para contar a história.

Rosa Cueca said...

Nenhum momento é pequeno o suficiente para dizermos "já te perdoei...".
Como poderíamos não perdoar? Nunca íamos conseguir viver realmente...
Depois...as despedidas fazem-se em nós mesmos e não num qualquer cemitério. Ainda hoje eu não me despedi dos meus avós. Afinal..eles nunca chegaram a sair de mim...