Friday, November 19, 2004

Natal

Não há como não falar no Natal, apesar de ainda faltar mais de um mês para o dia 25 de Dezembro. As ruas estão iluminadas e decoradas, as televisões e as rádios inundadas de publicidade, os centros comerciais e as lojas cheios de novidades e recheados de “fenómenos da última geração”, que tentam atrair e seduzir os possíveis compradores. Ainda me lembro de quando só se começava a preparar esta época em Dezembro. Este ano, m Outubro já se ouvia a “música da Leopoldina”. Estranho, não é? Parece que estes últimos meses do ano são vividos em função de uma única noite. Mas, afinal, o que é o Natal? Eu acredito naquela história do “é quando o Homem quiser”, no sentido de que o “espírito natalício”, aquele sentimento de paz e de amor, que (supostamente) nos invade nesta época, pode der sentido em qualquer altura do ano. Basta querer. Se bem que talvez seja algo muito utópico.
Mas, é do conhecimento de todos que o Natal não é só isto (infelizmente). Existe ainda a sua dimensão religiosa e a sua dimensão comercial.
Quanto à religiosa, o verdadeiro significado de Natal prende-se com o nascimento de Cristo, que veio ao Mundo com um único propósito: «o de justificar os nossos pecados através da sua própria morte. Nesses tempos, sempre que alguém pecava e desejava obter o perdão divino, oferecia um cordeiro em forma de sacrifício. Então, Deus enviou Jesus Cristo que, como um cordeiro sem pecados, veio ao mundo para limpar os pecados de toda a Humanidade através da Sua morte, para que um dia possamos alcançar a vida eterna, por intermédio Dele, Cristo, Filho de Deus». Inicialmente, a Igreja Católica não comemorava o Natal. Foi em meados do século IV d.C. que se começou a festejar o nascimento do Menino Jesus, tendo o Papa Júlio I fixado a data no dia 25 de Dezembro, já que se desconhece a verdadeira data do Seu nascimento.
Quanto à sua dimensão comercial, parece-me que é bem visível, mais do que outra qualquer. As lojas passam a estar abertas 24h por dia, as pessoas abrem os cordões às suas bolsas e gastam tudo o que têm (e, por vezes, o que não têm), só porque “parece mal” não se oferecer algo que tenha um valor comercial razoável. Mas e o valor sentimental? E a história do que “o que conta é a intenção” onde fica? Será que deixou de ter importância?
Pessoalmente, eu sou muito afectada pelo espírito natalício, talvez por ser aquela época do ano que melhores recordações me traz. Haver uma noite no ano em que se consegue fazer que uma família, demasiado grande e extremamente complicada, mantenha uma relação minimamente “simpática”, é bastante reconfortante (independentemente das razões pelas quais isso acontece). O simples facto de nos conseguirmos reunir por umas breves horas e todos fazerem um esforço (que poderia muito bem ser feito todos os dias do ano, mas isso é outro assunto) para serem “cordiais” uns com os outros, é um bom motivo para se gostar do Natal. Aqueles rituais de se “fazer a árvore”, de se estar reunidos em volta da lareira, de abrir as prendas à meia-noite, de se ficar acordado até às tantas da manhã, a falar-se dos “bons velhos tempos” e a ouvir-se os avós a contar as histórias da juventude deles, são algo de raro e de “único”, pelo menos ao longo de um ano inteiro. Pena que aconteça apenas como justificação de ser dia 25 de Dezembro.
É exactamente o mesmo quando se fala do “cessar-fogo” nas guerras, apenas por causa de “ser Natal”. É claro que é algo de positivo, mas é um pouco estranho fazê-lo apenas por algo que a maioria das pessoas nem sequer sabe muito bem o que significa. Não se cessa fogo quando morrem milhões de pessoas, não se cessa fogo quando se destroem milhões de lares, não se cessa fogo quando há milhões de desalojados, não se cessa fogo quando os soldados já não aguentam mais e já nem sabem qual é o motivo da sua luta, não se cessa fogo quando apenas duas pessoas (ou até mesmo uma) querem realmente que a guerra continue. Mas: “É Natal, TEMOS de cessar fogo.”. Porquê? Não me parece que seja algo muito coerente. Supostamente o Natal é uma celebração católica, logo, se se toma uma decisão de acordo com os princípios e valores desta religião, estes teriam de ser aplicados todos os dias, e não apenas num dia por ano.

Susana Nunes

4 comments:

Alexandre Carvalho said...

Minha amiga, eu n gosto de ser pessimista, mas o Natal q tu queres só o tens dentro de casa... se o tiveres!
O q é verdade é q a Igreja (instituição) tal como as suas festividades, principalmente o Natal, são Lobbies.
O Natal é visto por muitos como uma época económica, aproveitando-se do facto de ser uma festividade supostamente celebrada por muitos. Vemos a pressão da sociedade nas crianças, a incentivá-las a quererem o q quer q seja q viram na tv. Os putos vão pedir á família, a família ensina-lhes q o Natal o q conta é o sentimento de felicidade, e harmonia... E nada fará mais feliz um puto do q ter aquele Mega-Hiper-Pseudo-Spun q viu na televisão, com bateria incluída. O natal não é só naquela altura do ano, a sociedade de consumo puxa pela carteira de todos nós durante o ano todo, mas no Natal há o pretexto religioso. E a família junta-se harmoniosamente naquele dia, n porque é aquele dia, mas porque é apenas aquele dia. Em 365 dias é um esforço a ter em conta....
Voltando á parte económica: Sabemos q os putos passam a vida agarrados á televisão independentemente da estação do ano, sabemos q o Pai Natal dava presentes a TODOS os putos existentes á face desta terra (percebes agr o pq de termos q comprar prendas para TODOS? Deliciamos os putos na fábula do Pai Natal, e depois vemo-nos obrigados a ser o Pai Natal desse puto q maravilhámos. E depois, basta pensar um pouco apenas, e lembramo-nos q quem inventou esta história nos moldes em q hj conhecemos foi... uma empresa de refrigerantes, leia-se Coca-Cola), e sabemos q recebemos o subsídio do 13º mês sensivelmente na altura em q os «descontos» da época natalícia surgem... nada é deixado ao acaso. Susana, eu percebo q talvez estejas triste por esse sentimento estar-se a perderk, mas de um ponto de vista humorístico mais sarcástico, é igualmente interessante abrir mesmo os olhos e ver como se comporta a sociedade em geral nesta época, em particular a económica, e como a parte económica desta festividade está presente em TUDO... Abre os olhos;)

Susana Nunes said...

Eu percebi o que queres dizer. E concordo: na generalidade, o Natal é mesmo assim, para muita gente. Mas, assim sendo, acho que o meu Natal não é «normal». Lembro-me de sempre ter sentido (inerente a esta época) um sentimento muito positivo. Mesmo quando ainda eramos miúdos e as prendas eram coisas sem grande valor, mesmo quando a minha avó teimava em fazer o tradicional bacalhau com batatas cozidas, mesmo quando ela não nos deixava ir «assaltar» o armário dos rebuçados e das bolachas, mesmo quando estava demasiado frio, mesmo quando não havia camas que chegassem em casa para a famíla toda e tinhamos de dormir quatro ou cinco miúdos a atravessar na mesma cama, mesmo quando não havia àrvore de Natal, nem presépio, nem luzinhas... Nada disso tinha importância, porque estavamos juntos e em paz. E não era preciso muito para dizer que era a noite / o dia mais feliz das nossas vidas. Agora é claro que já não é bem assim. Crescemos, vemos as coisas de outra maneira. Mas não deixou de ser especial. E nada disto tem a ver com a dimensão comercial do Natal. Pode já haver àrvore, presépio, luzinhas, mas isso nunca foi o mais importante.

Anonymous said...

SU...

N pudes deixar de ler o teu texto. Gostava, não de ter um natal como o teu, mas sim um pensamento natalício como o teu! Por mais campanhas que existam contra a fome, a pobreza, etc. só nos lembramos que existem no natal! Dou-t td a razão! Se o natal é qd o homem quer, não há desculpra para a solidariedade e a caridade não o serem! Infelizmente, faço parte de uma sociedade consumista e nem sempre me lembro que, talvez um dia, venha a precisar de alguém como tu!

Com amizade a carinho:

Maya

Alexandre Caetano said...

O Natal, talvez na área em que estou, vejo o Natal mais pelo lado estratégico das empresas e não como algo especial.Temos que encarar a realidade e ver que muitas empresas aproveitam esta altura do ano para obter maior número de vendas e algumas, com isso, salvar o défice que tinham até à data. Vamos por passos até: O Pai Natal, porque se veste de vermelho e branco? Ou acham que é coincidencia a Coca-Cola ser da mesma cor? Depois, "O Natal é quando o Homem quiser" quase que advinhava que seria algum slog publicitário de alguma empresa, na maneira de conseguir continuar com as vendas em alta. Depois acredito também que hoje em dia, em que vivemos cada vez mais (infelizmente) numa sociedade totalmente materialista, haja cada vez mais gente com dívidas, especialmente com agências bancárias. As pessoas importam-se cada vez mais com o valor comercial da prenda a dar, e não com o valor sentimental. Também aqui poderíamos por as culpas um bocado em cima das agências, mas isto seria outro tema, mas só para concluir, isto porque poderiam informar melhor os seus clientes das condições que cada cartão de crédito tem, e não por o cartão na mão das pessoas e desejar-lhes "boa sorte".
A nível religioso, julgo também que cada vez menos as pessoas se intressem por esse assunto. Acho que cada vez mais as familias dão menos interesse à religião, pois devido à ciência, cada vez prova-se mais contra a existência de um Deus, ou um ser que nos comanda. Mas a religião não é feita de provas, é feita de fé. É verdade, também, que existem os chamados "milagres", coisas que ninguém sabe explicar como acontece, mas mais uma vez não sabemos se é devido a organismos do nosso cérebro ou se existe algum ser superior a fazer com que isso aconteça.
Quanto à tua junção da familia, sei que também lá pertenço, mas a uns tantos quilómetros de ti. Não achas que existe aí muita hipocrisia pelo meio? Temos o exemplo de familiares que nem saíram de casa no Verão para poderem ficar especados diante de um ecrã, a fazerem coisas totalmente supérfluoas, em vez de irem conviver um bocado com a família. Julgo que só não vê quem não quer, e juro-te que não farei esforços para os ver. Enfim... um pequeno desabafo. E o fim deste comentário.