aos britânicos, a minha incondicional admiração:
matam um homem por engano e fazem um mea culpa quase imediato na praça pública, mas afirmando para quem os quiser ouvir que se mantêm firmes na política do shoot to kill, porque tem de ser e não há outra alternativa, que as condições (terríveis, terríveis...) são de excepção e os polícias andam a ser treinados para acertarem no meio da boca e entre os olhos porque se calha a ser no peito as bombas podem explodir e lá se vai terrorista e mais umas dúzias de inocentes, e é verdade, sim senhor, por isso tenham cuidadinho, vejam lá como se portam, que a gente na dúvida atira a matar pois está claro e pode voltar a fazer o mesmo. Tudo clarinho como água, à minha moda.
Se fosse por cá, a responsabilidade andaria a ser chutada da oposição para o governo, do governo para o ministro da pasta, do ministro da pasta para o chefe da polícia, do chefe da polícia para os agentes, dos agentes para as condições meteorológicas, das condições meteorológicas para os factores externos, dos factores externos para o circunstancialismo adjacente, do circunstancialismo adjacente para a necessidade de uma averiguação aprofundada, e da necessidade de uma averiguação aprofundada para o não presto declarações sobre o assunto, num jogo com mais toques de bola que uma final de campeonato mas, ao contrário desta, sem resultado final nem vencedor à vista.
No meio desta desgraça toda, teve uma certa piada, pelo descaramento, que o chefe de Estado de um país onde esquadrões de polícias assassinam dezenas de miúdos de rua, se tenha aprestado a pedir explicações ao chefe de Estado de um país cujos nacionais andam a ser mortos às dezenas em estações de metro, pelo facto (lamentável mas totalmente compreensível) de ter sido morto por engano um seu nacional - que saiu de uma casa referenciada como suspeita, envergando um kispo em pleno Verão, se dirigiu ao metro e que, face a uma cristalina ordem de paragem, saltou as barreiras de protecção e se pôs em fuga na direcção das carruagens.
Um terrível engano, afinal, estamos a falar de um ser humano que perdeu a vida. Trágico, sem dúvida. Mas vamos lá a atentar no contexto. O contexto, neste caso, é tudo - tudo e mais alguma coisa.
Porque o indivíduo que morreu, não foi vítima de uma série de infelizes coicidências nem do excesso de zelo de alguns agentes de gatilho nervoso. Como diz Blair (o outro), e muito bem, ele foi mais uma vítima dos terroristas. Mais uma, entre muitas (e esta é, para mim, a correctíssima visão das coisas).
Por: vieira do mar.
2 comments:
Epa. Nesta altura já estava o polícia preso e com pena máxima, isto em Portugal. Acho que devia ser sempre assim, e em todo o lado. Matem-nos à vontade.
??
já estava o polícia preso?
eu acho que ainda se estaria a debater se o morto estaria efecticamente, mesmo morto. lololl
nós somos um país de agoirentos e cabalistas.
mas sim, aprecio também a frontalidade britânica. é das coisas que mais gosto neles.
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