Monday, July 25, 2005

You Are Welcome To Elsinore


Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos a morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar


Mário Cesariny, Pena Capital
Via:
dawn of the herd.

4 comments:

Alexandre Caetano said...

Tás pior que o Monteiro. Já levas 3 posts "através" de outros sites...

Susana Nunes said...

1º Isto não é nenhuma corrida.

2º Se são bons posts, porque não divulgá-los?

Alexandre Carvalho said...

agradeço a «divulgação». se bem que o que conta é o poema em si, não o meu blog. já me resignei ao pouco pessoal que comenta, mas agradeço desde já a vossa participação nele.

Entretanto, é realmente um genial poema. ;)

DaJe said...

"palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever"
Genial!